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19 de ago. de 2017

Resenha: A Rainha do Fogo - Anthony Ryan

Título: A Rainha do Fogo
Original: Queen of Fire
Série: A Sombra do Corvo/Raven's Shadow #3
Autor: Anthony Ryan
Tradutor: Gabriel Oliva Brum
Páginas: 752
Editora: LeYa (abril de 2017)

Sinopse: Depois de escapar da morte por um fio, a Rainha Lyrna está determinada a expulsar os invasores volarianos e retomar o controle do Reino Unificado. Mas, para isso, ela precisará fazer mais do que reunir seguidores leais: deverá se juntar às forças que, no passado, achou repugnantes – pessoas com os estranhos e variados dons das Trevas – e levar a guerra para o território inimigo. A vitória está nas mãos de Vaelin Al Sorna, agora nomeado Senhor da Batalha. Seu caminho, no entanto, não será nada fácil, pois o Império Volariano possui uma nova arma: o misterioso Aliado, capaz de estender a vida de seus servos. Como Vaelin poderá matar o que não pode ser morto, agora que sua canção do sangue, o poder que o tornou um feroz guerreiro, ficou subitamente emudecida? Na emocionante conclusão da saga best-seller do The New York Times “A Sombra do Corvo”, Vaelin Al Sorna precisa ajudar a Rainha a retomar o Reino Unificado e defendê-la de uma nova ameaça, algo com poderes tão sombrios quanto os piores pesadelos do herói.

Essa resenha contém spoilers dos livros anteriores.

Em tempos em que dezenas de lançamentos de novas séries chegam ao Brasil, terminar qualquer uma que seja já é um fato a ser comemorado. A gente quer ler TUDO, mas ao mesmo tempo não consegue ler NADA. Felizmente, tinha como meta finalizar trilogia A Sombra do Corvo e consegui cumpri-la ainda no 1º semestre de 2017. Portanto, sem mais delongas, vamos à parte que interessa.

A Rainha do Fogo começa logo após os acontecimentos de O Senhor da Torre, quando os habitantes do Reino Unificado conseguem derrotar as forças invasores do Império Volariano em Alltor. No entanto, ainda restam forças leais a eles dentro do próprio Reino, traidores de sua nação dispostos a enriquecer e receber o dom da imortalidade se cumprirem os desejos dos servos do misterioso Aliado. É justamente essa a próxima tarefa da Rainha Lyrna para que o seu reinado seja duradouro e próspero: arrancar as maçãs podres do seu pomar, e para isso terá que se dirigir até Varinshold.

"O Aliado está lá, mas sempre como uma sombra, uma catástrofe inexplicada ou um assassinato cometido por ordem de um espírito sombrio e vingativo. Separar verdade de mito costuma ser uma tarefa infrutífera."

O começo desse livro trata muito daquele típico cenário "pós-guerra", com bastante politicagem rolando, reconstrução do que é necessário, estabelecimento de novos acordos e alianças, etc.

Enquanto essa parte se desenrola, acompanhamos Frentis após a queima impiedosa da Floresta Martishe, um ato cruel por parte dos invasores. Agora aliado do Reino, o Escudo lidera tropas meldeneanas numa perseguição aos volarianos, mostrando que pode ser útil à Lyrna, buscando algumas vantagens para si, é claro. Já Verniers, o cronista dessa história que acompanhamos, é enviado ao Império Alpirano para uma missão diplomática. E quanto a Vaelin, nosso protagonista?


Bem, Vaelin Al Sorna parece ter perdido o seu dom da canção. Após se esforçar ao limite no combate em Alttor, Vaelin desmaia e, ao despertar, percebe que a canção não está mais presente. O que será dele sem o instinto que lhe guiou por muitos anos de sua vida? Bora ler para descobrir.

Decidida a retaliar o Império Volariano pelos danos causados, Lyrna decide que é hora de atacá-los, antes que se reagrupem e marchem para o Reino Unificado novamente. E é a partir desse momento que parece que a escrita do Anthony Ryan começa a enfraquecer. Alguns capítulos não avançam tanto, mesmo que sejam necessários para o estabelecimento do "pós-cerco em Alltor" e "preparação para mais guerras", mas a decisão que ele tomou para o rumo do Vaelin, para mim, não foi a mais adequada. Os melhores capítulos de toda a série eram quase sempre dele, principalmente no 1º livro, mas vários do 2º também. Aqui ele meio que se afasta da proposta inicial desse personagem e sacrifica aquela beleza e epicidade que era a sua narrativa de guerreiro.

"Vaelin podia ver, através da neblina matutina, os piquetes se movendo num passo descontraído e sem nenhum sinal de alarme. Ele aguardou à medida que o sol esquentava sua nuca e sua sombra estendia-se no solo adiante, uma longa seta escura apontada para o exército volariano."

Importante ressaltar nessa resenha algumas mudanças de atitudes dos personagens, mostrando uma evolução no seu pensamento. Lyrna, agora como comandante de uma nação, perdoa seu próprios erros do passado e passa a ver os dotados como as pessoas que realmente são, e não como aberrações. Frentis precisa lidar com as consequências por ter assassinado o antigo rei Malcius.


Alornis, irmã de Vaelin, é uma que merece atenção. Não sei se para o bem ou para o mal. De mera aprendiz de pintura/escultura, vira uma "artista de guerra", elaborando planos e armas poderosas. Ficou um pouco forçado, mas enfim, deu para relevar um pouco. Reva evoluiu consideravelmente como guerreira, tendo também que confrontar seus pesadelos do passado ao longo das páginas.

No entanto, relacionando mais à história em si, para mim o Anthony Ryan tentou crescer/desenvolver TANTO o seu mundo, a magia, a quantidade de personagens, etc., que algo não saiu perfeito. A intenção foi excelente, mas não brilhantemente executada. Aprendemos mais sobre a canção e os outros poderes, conhecemos lugares novos, etc., mas nem tudo se encaixou.

O avanço do Reino para o combate final contra o Império Volariano toma boa parte do livro, talvez pudesse ter durado um pouco menos, "transferindo" algumas páginas para as partes finais. Poderia ter dado uma cadência maior à leitura. No entanto, vários momentos épicos são reservados, com revelações impactantes ao leitor. Muitos embates recheados de reviravoltas para ambos os lados!

"Se vamos dividir o poder, sou forçada a concluir que você precisa de uma lição sobre o preço dele. Poder jamais foi conquistado sem sangue, ambições jamais foram realizadas sem sacrifícios."

As explicações por trás do Aliado (quem ele é/era, quais suas motivações, como chegou até a posição atual, etc.) foram respondidas e achei satisfatórias, devem agradar à maioria dos leitores.

Alguns detalhes dos livros anteriores são necessários para entender o que acontece, então sugiro fazer uma leitura por cima do que se passou e preparar-se para adivinhar o que A Sombra do Corvo revela. O livro termina com poucas pontas soltas, mas que podem servir de gancho para uma continuação, caso ela venha a existir. Eu não reclamaria, pois a ambientação da série me cativou.

Além disso, o autor conseguiu balancear de uma maneira positiva os pontos de vista de personagens femininos e masculinos, dando o destaque necessário para ambos durante o andamento da série.

Mesmo com os vários defeitos do volume final, eu recomendo bastante a trilogia do Anthony Ryan. O saldo foi bem positivo e às vezes me pego pensando nos acontecimentos, lembrando dos personagens e dos bons momentos que passei ao ler A Sombra do Corvo. Espero que vocês gostem!

Avaliação final:


A Sombra do Corvo:

Livro 1 - A Canção do Sangue
Livro 3 - A Rainha do Fogo

23 de mai. de 2017

Resenha: O Portador do Fogo - Bernard Cornwell

Título: O Portador do Fogo
Original: The Flame Bearer
Série: Crônicas Saxônicas/Saxon Stories #10
Autor: Bernard Cornwell
Tradutor: Alves Calado
Páginas: 322
Editora: Record (maio de 2017)

Sinopse: Uhtred é o senhor de Bebbanburg e nada nem ninguém ficará no seu caminho para reconquistá-la nesse décimo volume da série Crônicas Saxônicas A Britânia enfim encontra um momento de paz. Sigtryggr, senhor da Nortúmbria, e a rainha Æthelflaed, senhora da Mércia, chegaram a um acordo e decretaram uma trégua, com o apoio do maior guerreiro da época, Uhtred de Bebbanburg. Uhtred vê então a chance de recuperar suas terras, tomadas por seu tio tantos anos — e agora mantidas por seu ardiloso primo. Mas os inimigos que Uhtred fez depois de tantos anos em guerra e os juramentos que prestou, além de uma rede de intrigas, o desviam temporariamente do sonho de recuperar Bebbanburg. E isso abre espaço para o surgimento de um novo inimigo, o temível Constantin da Escócia, que aproveita o clima de incertezas para comandar seu exército para o sul e conquistar terras da Nortúmbria. Porém, Uhtred está determinado, e nada, nem novos nem antigos inimigos, será capaz de mantê-lo afastado de seu direito de nascimento.

Essa resenha contém spoilers dos livros anteriores.

Enfim chega ao Brasil o DÉCIMO livro das Crônicas Saxônicas. Parece até que foi ontem (2012) que comecei a série acompanhando a vida de um pirralho e literalmente devorando os livros seguintes.

Após os acontecimentos do 9º volume, quando Uhtred, Finan e seus guerreiros derrotam o exército do irmão de Sigtryggr, Ragnall, além das mortes de Brida e Haesten, agora as atenções do nosso protagonista voltam-se totalmente ao norte, em direção à Bebbanburg, sua fortaleza de direito.

Ajudado pelo fato do seu genro Sigtryggr, casado com Stiorra, ser o comandante atual da Nortúmbria, Uhtred sabe que não terá que se preocupar com inimigos às suas costas quando avançar para o norte, focando-se somente no que interessa. Para manter a paz, um acordo foi feito com Æthelflaed, onde Sigtryggr abriu mão de várias terras e de vários burhs que havia conquistado.

Mas nem tudo são flores, é claro. Ao aproximar-se de Bebbanburg, Uhtred descobre que seu primo está sendo abastecido com comida e contratando guerreiros a partir do norueguês Einar, o Branco, já temendo um ataque de Uhtred à fortaleza inexpugnável. As coisas ainda pioram quando um exército escocês aparece, liderado pelo chefe de guerra Constantin, reivindicando todas as terras acima da Muralha de Adriano. Para eles, essa parte do território é escocesa, e isso inclui as terras em volta de Bebbanburg. Com uma quantidade de guerreiros bem menor e sem querer se arriscar, Uhtred é obrigado a recuar, indignado com as artimanhas aprontadas pelas fiandeiras do destino.

"Eu digo aos meus netos que a confiança vence batalhas. Não desejo que eles lutem, preferiria tornar o mundo de Jeremias uma realidade e viver em harmonia, mas sempre há algum homem, e geralmente é um homem, que olha com inveja para os nossos campos, que quer a nossa casa, que acha que seu deus rançoso é melhor que o nosso, que virá com fogo, espada e aço tomar o que construímos e torná-lo seu. E, se não estivermos prontos para lutar, se não tivermos passado aquelas horas tediosas aprendendo a usar espada, escudo, lança e seax, esse homem vencerá e nós morreremos. Nossos filhos serão escravos, nossas mulheres serão prostitutas e nosso gado será morto. Por isso precisamos lutar, e um homem que luta confiante vence."

Um oponente do passado aparece para atrapalhar ainda mais a sua vida: o poderoso ealdorman Æthelhelm, sogro de Eduardo e atualmente o homem mais poderoso do reino de Wessex. Determinado a confirmar seu neto como sucessor do atual rei, ele deseja uma invasão o quanto antes da Nortúmbria, o que vai de encontro à vontade de Uhtred. Æthelhelm teria que passar por cima de Sigtryggr e Stiorra, mas como foi visto no 9º livro, não se mexe com a família dos outros.

Os primeiros capítulos desse 10º livro são cheios de intrigas políticas e incertezas quanto ao futuro da Inglaterra. Ao acompanharmos os pensamentos de Uhtred, percebemos que a união dos quatro reinos ainda está bem longe de acontecer, apesar do domínio territorial saxão indicar o contrário. E isso é algo que com certeza será MUITO explorado também nos próximos volumes da série, quando os próprios saxões entrarão em conflito entre si para decidir quem seguirá o sonho de Alfredo.

Com um ritmo menos empolgante que o antecessor, O Portador do Fogo sofre um pouquinho com a parte política na primeira metade, quando o leitor é constantemente deslocado para um lado e para outro, tentando entender o que está acontecendo e quais serão as consequências.

No entanto, quando chegamos na parte onde se cumpre o prometido na sinopse, a coisa pega fogo.

Nesse livro acontece algo que praticamente todos os fãs da série estavam esperando. Não escreverei aqui exatamente o que é para não dar spoilers aos desavidos, mas quem acompanha a história do Uhtred desde pequeno não tem como errar. É pra glorificar de pé, irmãos! Chegou o grande dia!

Eu tinha desamarrado as placas faciais do elmo, deixado que eles vissem o sangue no meu rosto, que vissem o sangue na minha cota de malha, nas minhas mãos. Eu era um homem de ouro e sangue. Era um senhor da guerra e estava tomado pela fúria da batalha. O inimigo estava a dez passos de distância e eu caminhei cinco desses dez, ficando sozinho diante deles. — Esta é a minha rocha! — vociferei para eles.

E que narrações sensacionais! Nos capítulos finais passa um filme na nossa cabeça, do Uhtred levando uma pancada do Ragnar velho para depois ser recebido pelo Ragnar filho, da batalha com Ubba à beira do mar, dele derrubando Svein do Cavalo Branco, de acompanhar a morte de Kjartan pelas mãos de Ragnar, da briga por Lundene, dos momentos íntimos com Gisela e seus herdeiros, da morte do rei que ele amava e odiava ao mesmo tempo, entre tantas outras coisas que fazem das Crônicas Saxônicas um conjunto de narrativas épicas de brilhar os olhos. Wyrd bið ful aræd

Impossível não se emocionar por um momento que esperávamos por tanto tempo.

Com um (baita) peso a menos nas costas, a série poderá avançar bastante, até momentos tensos na história da formação da Inglaterra, como a disputa pela sucessão do trono quando Eduardo, o filho do falecido Alfredo, morrer. Muitas tretas para os leitores nas sequências das Crônicas Saxônicas.

Avaliação final:

Crônicas Saxônicas:

1º livro - O Último Reino
5º livro - Terra em Chamas
6º livro - Morte dos Reis
7º livro - O Guerreiro Pagão
8º livro - O Trono Vazio
10º livro - O Portador do Fogo
11º livro - ?
...

26 de abr. de 2017

Resenha: Jardins da Lua - Steven Erikson

Título: Jardins da Lua
Original: Gardens of the Moon
Série: O Livro Malazano dos Caídos/The Malazan Book of the Fallen #1
Autor: Steven Erikson
Páginas: 608
Editora: Arqueiro (março de 2017)

Sinopse: Desde pequeno, Ganoes Paran decidiu trocar os privilégios da nobreza malazana por uma vida a serviço do exército imperial. O que o jovem capitão não sabia, porém, era que seu destino acabaria entrelaçado aos desígnios dos deuses, e que ele seria praticamente arremessado ao centro de um dos maiores conflitos que o Império Malazano já tinha visto. Paran é enviado a Darujhistan, a última entre as Cidades Livres de Genabackis, onde deve assumir o comando dos Queimadores de Pontes, um lendário esquadrão de elite. O local ainda resiste à ocupação malazana e é a joia cobiçada pela imperatriz Laseen, que não está disposta a estancar o derramamento de sangue enquanto não conquistá-lo. Porém, em pouco tempo fica claro que essa não será uma campanha militar comum: na Cidade do Fogo Azul não está em jogo apenas o futuro do Império Malazano, mas estão envolvidos também deuses ancestrais, criaturas das sombras e uma magia de poder inimaginável. Em Jardins da lua, Steven Erikson nos apresenta um universo complexo de cenários estonteantes e ações vertiginosas que mostram por que esta é uma das maiores sagas épicas.

Jardins da Lua, do autor Steven Erikson, era um dos lançamentos de fantasia mais aguardados no Brasil para esse ano de 2017. E isso que a finada Saída de Emergência havia adquirido os seus direitos um bom tempo atrás, mas acabou não lançando e faliu antes disso, então a obra caiu no colo da editora Arqueiro, que parece ser a mais indicada para tocar a série até o seu final, já que o Steven Erikson escreveu míseros 10 volumes para O Livro Malazano dos Caídos. O histórico da Arqueiro em não abandonar séries é muito bom, então vejo Malazan sendo finalizada em um período de 5 anos, até 2021, aproximadamente, com 1 livro sendo lançado a cada semestre.

Dois anos atrás, eu bem que tentei ler Gardens of The Moon (vulgo Jardins da Lua) em inglês mesmo, mas estava sem foco para ler fantasia na época e acabei largando depois de umas 200 páginas. Não tinha gostado muito, estava bem perdido na leitura, mas na 2ª vez foi mais tranquilo.

O estilo do autor é diferente dos que eu estava mais acostumado a ler, o que acaba tornando a experiência inicial com a série meio... estranha. Ele vai jogando personagens novos na nossa frente a cada 5-10 páginas, muitos vezes sem mencionar exatamente quem eles são, fazendo a ida ao Glossário uma busca constante pela luz no fim do túnel. Que porra é essa que tá acontecendo aqui? Não faço a mínima ideia, jureg. A sensação de "tô bem perdido" é comum nos primeiros capítulos.

O Massacre de Itko Kan (Conselheira Lorn e Ganoes Paran), por Luktarig

Acompanhamos o avanço do Império Malazano no continente de Genabackis, onde boa parte dele já foi conquistada pelos invasores, mas duas das Cidades Livres ainda resistem, Pale e Darujhistan. Essa "ânsia" por conquistar vem da política de guerra da nova imperatriz, Laseen, que assassinou o antigo imperador Kellanved e seu principal conselheiro, Dançarino. Esse golpe é mencionado algumas vezes no livro, mas quero mais detalhes em breve. Pelo que soube, o livro A Noite das Facas, lançamento da editora Cavaleiro Negro, trata bastante dessas mudanças em Malaz.

Logo nas primeiras partes já podemos ter uma noção de como a feitiçaria será tratada na série. Ela está ali, E MUITO PRESENTE, diga-se de passagem. Em meio aos massacres da primeira parte do livro, somos apresentados a personagens que nos acompanharão por muitas páginas de Jardins da Lua, como a conselheira Lorn, braço direito da imperatriz, e Ganoes Paran, atualmente tenente do Império Malazano e enviado a Genabackis para comandar o cerco a Darujhistan, joia do continente.

"Histórias não fazem ninguém sangrar. Histórias não deixam ninguém com fome nem machucam os pés. Quando se é jovem, cheirando a merda de porco, e se está convencido de que não há uma arma em toda a porcaria do mundo que seja capaz de matá-lo, tudo o que as histórias conseguem é fazer você querer se tornar parte delas."

À frente do esquadrão dos Queimadores de Pontes, que Paran assumirá, está o sargento Whiskeyjack. Antes uma unidade de elite do imperador Kellanved, agora os Queimadores foram relegados a tarefas ordinárias e frequentemente suicidas, uma mera amostra do desprezo que Laseen tem por eles. Quem pensa diferente disso é o Alto Punho Dujek Umbraço, o que pode/deve gerar conflitos.

Voltando a falar um pouco da magia em si, o sistema aqui é bem confuso, mas interessante ao mesmo tempo. Os tais Labirintos são legítimos quebra-cabeças para entendê-los, e creio que nesse 1º volume mal vimos do que eles são capaz. Segundo o próprio livro: "Os Labirintos habitavam o além. Encontre o portal e abra uma fenda. O que vazar é seu para modelar. Com essas palavras, uma jovem iniciou o caminho para a feitiçaria. Abra-se para o Labirinto que vem até você – que encontra você. Absorva seu poder, mas lembre-se: quando seu corpo fracassa, o portal se fecha". Espero ter mais para falar nas próximas resenhas, por enquanto vou ficar só nas especulações.

Focando mais em Darujhistan, percebemos claramente que MUITA coisa está em jogo no momento que o Império Malazano bate às suas portas. E é aí que a "escala" de Malazan começa a crescer. Depois de nos acostumarmos com as dezenas de personagens, o negócio começa a fluir de verdade.

Darujhistan, por guat

Para não sucumbir aos ataques, as forças defensoras d'A Cidade do Fogo Azul, como é mais conhecida Darujhistan, por causa da sua iluminação à base de gás, forjam alianças com forças misteriosas. Uma delas é Anomander Rake, tiste andii,o Senhor da Cria da Lua, poderosa fortaleza voadora (WTF?!? hahaha). Com uma espada como Dragnipur nas costas, capaz de enviar as almas de deuses e mortais para serem aprisionadas em uma carroça monstruosa com correntes gigantescas, a balança da guerra pode mudar a qualquer momento. Pode depender de quem tiver mais sorte.


Darujhistan também é palco de diálogos interessantes, principalmente quando o personagem Kruppe estiver presente. Fiquem de olho nele e seus amigos. Envolvidos em uma conspiração junto à Sociedade dos Assassinos, assim como as manobras dos magos locais, os acontecimentos do grupo "principal" nessa parte do livro fazem a leitura fluir num ritmo bem melhor do que no começo.

"Por toda a nossa vida nós lutamos por controle, por um meio de moldar o mundo à nossa volta, uma caçada eterna e inútil pelo privilégio de sermos capazes de prever a forma de nossas vidas."

Quando alguns segredos do passado começam a ser desvendados e fatos milenares tendem a ser desenterrados, percebemos o quanto o worldbuilding (a famosa construção do mundo) faz o seu papel nessa série. Acho que é talvez o grande motivo por eu querer muito ler as sequências e descobrir o que vai acontecer e o que aconteceu. Saber mais sobre as Raças Fundadoras, sobre as guerras que antecederam o reinado de Laseen, entre tantas outras coisas que são pinceladas aqui.

Eu confesso até que não curto tanto essa parada de ter TANTA magia assim envolvida em uma obra de fantasia, onde ela parece não ter tantas limitações num primeiro momento, mas às vezes é bom sair da zona de conforto "espada + escudo" que leio sempre e partir para coisas diferentes. Investir junto com a Arqueiro n'O Livro Malazano dos Caídos é uma de minhas metas para os próximos anos.

Enfim, Jardins da Lua tem praticamente tudo que um leitor de fantasia épica pode desejar: worldbuilding massa, sistema de magia meio louco, mas que te deixa curioso, guerras para todo lado, várias raças, e mais, como as manobras dos deuses entre os mortais. Um mundo que não faz diferenciação entre homens e mulheres, divindades e discípulos. Todos têm um papel a cumprir.

Com tradução de Carol Chiovatto, a série deve ter sua continuidade no 2º semestre de 2017, com o lançamento de Deadhouse Gates, talvez "Portões da Casa Morta". É praticamente unanimidade entre os fãs da série que esse é o livro que arrebata todos os leitores para o mundo malazano. Veremos!

Avaliação final:

O Livro Malazano dos Caídos:

Livro 1 - Jardins da Lua
Livro 2 - Deadhouse Gates
Livro 3 - Memories of Ice
Livro 4 - House of Chains
Livro 5 - Midnight Tides
Livro 6 - The Bonehunters
Livro 7 - Reaper's Gale
Livro 8 - Toll the Hounds
Livro 9 - Dust of Dreams
Livro 10 - The Crippled God

3 de abr. de 2017

Resenha: O Senhor da Torre - Anthony Ryan

Título: O Senhor da Torre
Original: Tower Lord
Série: A Sombra do Corvo/Raven's Shadow #2
Autor: Anthony Ryan
Páginas: 704
Editora: LeYa (2016)
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Sinopse: O Senhor da Torre é o segundo livro da série “A Sombra do Corvo”, uma fantasia épica que explora episódios de conflito, lealdade e fé. Vaelin Al Sorna, agora guerreiro da Sexta Ordem, é o maior guerreiro de sua época. Desiludido com seu Rei e pelo sangue de guerreiros derramado por causa de uma mentira, ele volta para casa, se isolando de tudo, e jura nunca mais matar. Porém, o Reino, que já está dividido entre os que apoiam o Rei Janus e os que preferem sua irmã como líder, será atacado por forças poderosas, e Vaelin, o Lâmina Negra, deverá lutar novamente.

Ainda não consigo me perdoar por ter esperado tanto para ler a continuação de A Canção do Sangue, obra de fantasia do autor Anthony Ryan, lançada inicialmente aqui no Brasil lá em 2014. O Senhor da Torre está quase no mesmo nível do seu antecessor, e agora vamos descobrir o porquê.

Ao contrário do 1º livro da série, esse aqui não tem apenas o Vaelin Al Sorna como protagonista. Contamos com outros três pontos de vista durante a leitura, e creio eu que esse seja um dos motivos para vários leitores acabarem não gostando tanto de O Senhor da Torre. Eles queriam mais de Vaelin e sua canção do sangue. Compreendo perfeitamente, mas preferi enxergar o outro lado da moeda e ver que existe uma vantagem MUITO boa em se ter vários personagens principais.

Muitas mentiras são ditas com gentileza, e muitas verdades são ditas com crueldade.

Uma delas, por exemplo, é conhecer o Império Volariano e ter uma ideia do seu plano de dominação total. Uma das maneiras de acompanharmos essa investida deles é pelo ponto de vista de Frentis, o antigo ladrãozinho de rua que virou um Irmão da Sexta Ordem e que agora é escravo em terras distantes, comandado magicamente por uma mulher misteriosa e sujeito aos seus desejos, que irão levá-lo a cometer uma série de assassinatos, tudo parte duma conspiração maior.

A Sexta Ordem, por MartinGillArt

Conspiração essa que, imagino, deverá ser o ponto central da trama no 3º e último livro da trilogia, A Rainha do Fogo. Mal posso esperar para ler e descobrir os poderes e as motivações por trás do "Aliado", essa entidade que é mencionada desde o começo da série e que pouco sabemos até agora.

Vaelin, o Lâmina Negra, volta para o Reino Unificado após ser julgado por seus "crimes" em terras estrangeiras. Com uma mentalidade totalmente diferente dos seus anos passados, e também muito mais maduro, o guerreiro pretende fugir da sua vida ligada à espada. Só que ele não contava com os planos de Malcius, herdeiro do falecido rei Janus. Enviado para os Confins do Norte, precisará lidar com a desconfiança do povo da região nortenha quanto a ele e ainda por cima descobrir que não é o único que possui um dom especial. Dons esses que sempre acabam cobrando os seus preços.

Quem rouba a cena nessa obra são as mulheres. Em um primeiro momento, Reva Mustor, a herdeira do Lâmina Fiel, Hentes Mustor, parece estar numa missão de vingança e simplesmente esquece de perceber o que está acontecendo ao seu redor e as possibilidades que lhe aparecem. Obstinada com o seu pensamento vingativo dirigido a Vaelin e também a seu antigo tutor, aos poucos ela começa a entender como funciona o jogo político das quatro regiões do Reino Unificado e, a partir desse momento, a vida da personagem sofre uma guinada bem interessante. Vocês irão gostar.

"Você oferece mais do que lutar. Você oferece esperança de que esse feudo sobreviverá àquilo que está vindo para destruí-lo. E essa esperança não pode morrer. Eu já presenciei batalhas. A guerra não escolhe favoritos. Ela ceifa a vida dos fortes e dos fracos, dos habilidosos e dos desajeitados. Dos velhos e dos jovens."

Para mim, a princesa Lyrna é o grande destaque de O Senhor da Torre. Ainda mais quando nos são revelados os planos do seu falecido pai, o rei Janus, e o que Lyrna decidiu fazer a partir do momento de sua morte. Servindo inicialmente como embaixadora de seu irmão (o rei atual) em terras nortenhas, ela dá de cara com pessoas de dons especiais, obtendo uma nova visão sobre alguns povos que até então poucas pessoas do Reino haviam tido a oportunidade de se relacionar.

Quando obrigada a fugir para sobreviver, Lyrna descobrirá um ambiente totalmente diferente daquele ao qual era acostumada, onde ninguém é confiável e alianças improváveis serão forjadas. Os capítulos com os seus pontos de vista, para mim, são os mais interessantes de acompanharmos.

"Se as estrelas no céu não são constantes, nada é. Nada é eterno. Tudo é temporário e está em constante mudança. Nada é constante, meu senhor. Nenhum curso é tão determinado que não possa ser mudado."

E já que estamos tratando de coisa boa, precisamos falar sobre o cerco. Eu não vou estragar a surpresa de vocês dizendo em qual cidade ele acontece, mas posso adiantar que é uma parte FODA PRA CARALHO! Muitíssimo bem narrada, chegava a me dar uma angústia pra saber logo o que iria acontecer, quem iria morrer, se os habitantes iriam superar a investidade do inimigo, entre outras coisas. Fazia tempo que eu não ficava tão vidrado numa leitura como nas partes finais desse livro.


Acho que, numa comparação, O Senhor da Torre ficou levemente abaixo de A Canção do Sangue. Talvez por toda a história de Vaelin ser inédita para a gente, talvez por só termos ele como protagonista do 1º livro. Eu gostei bastante dessa mudança na narrativa, inserindo novos pontos de vista. Isso deu a oportunidade para o autor de tratar de vários outros aspectos do Reino Unificado, como as disputas políticas/econômicos entre os quatro feudos, além de explorar bem mais o mundo onde a obra se situa. São detalhes que acrescentam, e muito, à experiência do leitor com a série!

O grande trunfo desse livro foi ter percebido uma grande evolução nos personagens principais. Todos eles são testados ao seus limites, reagindo de maneiras diferentes, o que faz cada capítulo ter a sua singularidade. Em nenhum momento fiquei pensando "Bah, quero outro capítulo com o Vaelin, chega desses outros", e sim pensei "Opa, ponto de vista da Reva, essa parte deve ser massa".

Muitas questões acabaram ficando em aberto para a continuação, então pretendo comentar mais sobre elas na próxima resenha. Se tudo der certo, ainda em 2017. \o/

E que venha então A Rainha do Fogo e as respostas que queremos nesse universo criado pelo autor!

Avaliação final:

A Sombra do Corvo:

Livro 2 - O Senhor da Torre
Livro 3 - A Rainha do Fogo

11 de mar. de 2017

Resenha: A Passagem - Justin Cronin

Título: A Passagem
Original: The Passage
Série: A Passagem/The Passage #1
Autor: Justin Cronin
Páginas: 816
Editora: Arqueiro (março de 2013)

Sinopse: Primeiro, o imprevisível: a quebra de segurança em uma instalação secreta do governo norte-americano põe à solta um grupo de condenados à morte usados em um experimento militar. Infectados com um vírus modificado em laboratório que lhes dá incrível força, extraordinária capacidade de regeneração e hipersensibilidade à luz, tiveram os últimos traços de humanidade substituídos por um comportamento animalesco e uma insaciável sede de sangue. Depois, o inimaginável: o caos e a carnificina se instalam, e o nascer do dia seguinte revela um país – talvez um planeta – que nunca mais será o mesmo. A cada noite, a população humana se reduz e cresce o número de pessoas contaminadas pelo vírus assustador. Tudo o que resta aos poucos sobreviventes é uma longa luta em uma paisagem marcada pelo medo da escuridão, da morte e de algo ainda pior. Enquanto a humanidade se torna presa do predador criado por ela mesma, o agente Brad Wolgast, do FBI, tenta proteger Amy, uma órfã de 6 anos e a única criança usada no malfadado experimento que deu início ao apocalipse. Mas, para Amy, esse é apenas o começo de uma longa jornada – através de décadas e milhares de quilômetros – até o lugar e o tempo em que deverá pôr fim ao que jamais deveria ter começado. A passagem é um suspense implacável, uma alegoria da luta humana diante de uma catástrofe sem precedentes. Da destruição da sociedade que conhecemos aos esforços de reconstruí-la na nova ordem que se instaura, do confronto entre o bem e o mal ao questionamento interno de cada personagem, pessoas comuns são levadas a feitos extraordinários, enfrentando seus maiores medos em um mundo que recende a morte.

Quando Brad Wolgast e seu companheiro de FBI Phil Doyle são contratados para fazer parte do misterioso Projeto Noé, eles não imaginavam que teriam de correr à procura de uma garotinha de 6 anos para que fosse usada como cobaia de um experimento científico. Só de saber disso o leitor já pode ir imaginando do que a humanidade é/seria capaz de fazer em busca da sua imortalidade.

Um detalhe: JAMAIS LEIAM AS ORELHAS DO LIVRO! Elas entregam mais de 550 páginas dessa obra.

O Projeto Noé consiste em usar criminosos (12 até o momento) condenados à morte para que sejam usados em testes de uma pesquisa que busca aumentar a expectativa de vida humana. Leia-se "virar imortal". Já que eles não teriam mais motivos importante para viver e estão na beira do corredor da morte, todas suas informações são apagadas e eles passam a ser meras cobaias do experimento.

São nos capítulos iniciais de A Passagem que começamos a perceber o cuidado do autor em tentar embasar a sua obra de fantasia em fatos que realmente pareçam ser verdadeiros, trazendo explicações sobre como funcionam algumas partes do corpo humano, como a glândula timo, um dos pilares do nosso sistema imunológico e parte-chave do Projeto Noé, como vocês descobrirão ao ler.

A is for Amy, por Becky Munich

Quanto à garotinha, seu nome é Amy Harper Bellafonte, que no futuro será chamada de A Garota de Lugar Nenhum, Aquela que Surgiu, A Primeira, Última e Única, a que viveu mil anos. Tudo isso descobrimos logo no primeiro parágrafo da obra, antes que me xinguem por causa de spoilers.

As primeiras 200 páginas tem um ritmo mais tranquilo, contando uma boa parte da infância de Amy até o momento em que seu caminho se cruza com o dos agentes do FBI. E é então que a verdadeira treta começa, que o anunciado na sinopse se mostra ao leitor. A partir daí, meus amigos, fica impossível parar de ler. Os testes com as cobaias do Projeto Noé saem totalmente do controle e as cobaias fogem do complexo, iniciando a carnificina que começa a devastar o território americano e, talvez, não sabemos ainda, o mundo. Agora eles têm sede de sangue e não gostam da luz. Seriam Vampiros? Muito mais que isso, e é óbvio que eu não entregarei nada de bandeja a vocês.

"É fácil ter coragem quando a alternativa é a morte. Difícil é ter esperança."

Com a população sendo dizimada e o vírus se espalhando rapidamente, transformando os humanos em "virais", o mundo começa a mudar e se tornar mais perigoso. A história então avança longos 92 anos no tempo, quando a população já foi reduzida drasticamente e existe uma estimativa de mais de 40 milhões de virais à solta, espalhados pelo continente. Eles sempre andam em múltiplos de 3 (3, 6, 9, 15 e assim por diante), não sabemos por quê, atacando à noite ou em lugares escuros.

Somos apresentados à Primeira Colônia, onde um grupo de sobreviventes conseguiu se estabelecer em uma base, levantando muros, colocando grades e botando geradores de energia para funcionar. Energia essa que não dura para sempre, por sinal. Não pretendo falar dos personagens um por um logo nessa resenha, então só queria dar destaque para alguns, como Peter, Sara, Alicia, Titia e Michael. Esses sobreviventes conseguiram criar uma sociedade com regras e funções para todos os habitantes, mantendo uma disciplina constante para que conseguissem manter os virais longe.

Babcock, uma das cobaias do Projeto Noé, por turbosuo

A Passagem é uma história de como a ambição humana pode se transformar em tragédia, de como pessoas comuns, aliadas a poderes sobrenaturais de uma garota estranha, são capazes de enfrentar desafios para descobrir o que aconteceu no passado distante e assim tentar criar um futuro melhor.

"Uma parte do que somos continua vivendo enquanto alguém se lembra de nós."

Gostei bastante da forma como o Justin Cronin escreve, ele tem aquele jeito peculiar de contar histórias dando sutis detalhes aqui e ali que nos prendem demais à narrativa. O livro é gigante, tem umas 800 páginas, mas passou voando, tamanha a vontade que eu tinha de descobrir o que iria acontecer com os personagens principais. Principalmente Amy, o grande mistério dessa série. Ainda há muito a ser revelado sobre ela e sobre as cobaias + virais nas continuações da trilogia.

Uma história realmente intrigante, de como o mundo foi destruído em questão de horas para que fossem destacados aqueles que querem sobreviver a qualquer custo daqueles que não tem mais uma razão para estar ali. Vale a pena investir nessa série, recomendo muito a leitura de A Passagem!

Avaliação final:

A Passagem:

1º livro - A Passagem
2º livro - Os Doze
3º livro - A Cidade dos Espelhos

19 de fev. de 2017

Resenha: O Poderoso Chefão - Mario Puzo

Título: O Poderoso Chefão
Original: The Godfather
Autor: Mario Puzo
Páginas: 518
Editora: Record (2013)

Sinopse: O submundo da Máfia e o talento literário de Mario Puzo ganharam notoriedade com a publicação de O Poderoso Chefão. O carisma de Don Vito Corleone encanta na mais perfeita reconstituição da vida e dos negócios das famílias mafiosas de Nova York. Apesar de implacável, Don Vito é, essencialmente, um homem justo. Padrinho benevolente, nada recusa aos seus afilhados: conselho, dinheiro, vingança e até mesmo a morte de alguém. Em troca, o poderoso chefão pede apenas o respeito e a amizade de seus protegidos. Mas ninguém pode vencer as trapaças da idade. Quando seus inimigos atacarem juntos e tudo que a família Corleone significa estiver por um fio, o velho Corleone terá de escolher, entre seus filhos,um sucessor à altura. Um mundo de intrigas e decisões cruéis habilmente construído por Mario Puzo.

Finalmente tive a chance de ler a aclamada obra do autor Mario Puzo. E nunca me arrependerei.

Logo no primeiro capítulo somos apresentados ao homem que dá vida ao título do livro. Don Vito Corleone é O Padrinho, o negociador, o estrategista, a mente por trás da vinda da família Corleone à América depois de complicações na Sicília, uma ilha italiana dominada pela Máfia na primeira metade do século XX. Durante o casamento de sua filha Connie, percebemos de cara a influência que o Don tem no meio da sociedade. Ele não cobra nada quando seus "afilhados" vêm em busca de favores, apenas pede a sua amizade e que estejam à sua disposição quando precisar. Uma oferta irrecusável, uma lição que todos os leitores irão aprender, invariavelmente, durante a narrativa.

"O próprio Don Corleone não estava zangado. Aprendera havia muito tempo que a sociedade impõe afrontas que devem ser suportadas, confortadas pelo conhecimento de que neste mundo chega o momento em que o mais humilde dos homens, se conservar os olhos abertos, pode vingar-se do mais poderoso."

Quando os inimigos da família Corleone decidem tomar uma atitude drástica, o futuro do império do Don fica ameaçado. Será que algum dos seus filhos será capaz de assumir o seu lugar quando for necessário? Os três herdeiros Sonny, Freddie e Michael têm personalidades completamente distintas e que lhes favorecem em algumas situações, ao mesmo tempo em que podem ser fatais em outras.

Os ensinamentos de Don Vito Corleone estão presentes em todos os momentos, e esse é um cara que merece o respeito que tem, conquistado com trabalho duro e muita inteligência na hora de fechar negócios e proteger a sua família. Aliás, pensando no lado familiar, eu como descendente de italianos por parte de pai e mãe, fica impossível não gostar desse mito. Que homem, meus amigos!


Os pontos de vista apresentados na história são bem variados, com personagens de características próprias e vidas que acabam conectadas à do Padrinho, fazendo com que todos os capítulos sejam interessantes e tenham algo a mais para acrescentar. Nada está ali apenas por um mero acaso.

Anos após o lançamento de The Godfather e da sua obra ser bem recebida pela crítica, o autor Mario Puzo foi acusado de ser um membro da Máfia, tamanha a veracidade das informações contidas no seu livro. O retrato de como viviam as famílias da máfia italiana em Nova York foi tão bem feita que as pessoas começaram a desconfiar de um possível envolvimento do autor com os mafiosos. De um modo ou de outro, esse foi considerado um "prêmio" pela qualidade de sua escrita.

"Vários rapazes começavam trilhando uma trajetória para chegar ao seu verdadeiro destino. O tempo e a sorte geralmente os punham no caminho certo."

Aliás, o retrato da época é bem feito, com temas como racismo, abusos com a mulher e a pressão da sociedade em pauta da primeira à última página, além do preconceito dos mafiosos com alguns tipos de funções, como os advogados e os policiais, que só estariam ali para atrapalhar a sua vida.

O trabalho de pesquisa de Puzo foi fundamental para que a obra se perpetuasse até os dias de hoje.

Mesmo tendo sido lançado em 1969, não considerei a narrativa em 3ª pessoa de O Poderoso Chefão lenta em momento algum, muito ao contrário, parece até que Mario Puzo é aquele avô nosso que junta todos os netos para contar uma história de sua infância e das aventuras que teve o prazer de vivenciar. Tudo que um bom livro precisa está ali, só aguardando pelos olhos aguçados de um leitor.

Agora posso dizer, sem sombra de dúvidas, que esse livro entrou para a minha seleta lista de favoritos da vida inteira. A construção de Don Vito Corleone, sua trajetória da infância até o auge, a forma como ela é narrada, simplesmente incrível, digna de nota máxima nas minhas avaliações!

Eu lhe farei uma oferta que ele não poderá recusar.

Pensando um pouco sobre a tradução literal do título, de The Godfather para O Padrinho, acredito que a escolha brasileira de colocar O Poderoso Chefão foi acertada. A não ser que a qualidade da obra fosse intensamente divulgada, dificilmente eu, por exemplo, compraria um livro com um título simples como "O Padrinho". Não seria algo que me chamasse atenção nas livrarias. O escolhido pela editora Record ficou de acordo com a obra e correspondeu às expectativas, eu diria.

Já em relação à versão digital que eu li pelo Kindle, não tenho praticamente nada a reclamar, talvez um errinho mínimo aqui e ali que passou pela revisão, mas o resto está impecável.

Definitivamente um clássico 5 estrelas, recomendo demais MESMO, larguem tudo o que vocês estão fazendo/lendo no momento e partam para a leitura de O Poderoso Chefão! Qualidade garantida.

Avaliação final:
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